Assim como aconteceu na Copa do Mundo de Futebol de 2014, também no Brasil, a Olimpíada acontecerá, de um jeito ou de outro, dentro do esperado. Isso, dentro das quadras, campos e arenas esportivas, agora, fora deles, há o enigma: como o país estará no dia 5 de agosto (data que marca a festa de abertura de Rio 2016)?
Em Brasília, o processo de Impeachment está em andamento e a presidente Dilma se vê encurralada por oposicionistas e até mesmo por pessoas da base aliada. Protestos por todo o país pedem o fim da corrupção e a saída dos corruptos. Na mídia, as denúncias corriqueiras em meio a um dos mais impactantes casos de corrupção da história. Em mais de dois anos da Lava Jato, muitos nomes, de diversos partidos, estão envolvidos em toda essa vergonha para o país.
- Em meio à crise política, quem se lembra das Olimpíadas de 2016? - EL PAÍS Brasil
![]() |
Reuters |
E quem observa de fora está espantado com tudo isso. O Governo se defende. Até mesmo a presidente fala à imprensa estrangeira e diz estar sendo vítima de um "golpe". Quem acompanha política sabe que não é beeeem assim… Problemas na economia, nomes importantes da base aliada envolvidos em corrupção (assim como também da oposição), desemprego, inflação em alta, problemas de segurança, saúde, transporte…, enfim. Sem contar a desigualdade e os nítidos contrastes em todas as cidades, principalmente na que receberá os Jogos Olímpicos. Tudo isso revolta populares que vão às ruas, em um processo extremamente democrático.
- Impeachment não é golpe, diz ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto - Folha de S. Paulo
Problemas também no Esporte
O Rio já sediou os Jogos Pan-americanos (em proporções menores do que uma Olimpíada) e outros eventos esportivos importantes, além de conferências que reuniram grandes líderes mundiais, como por exemplo, a Rio+20. Mas o momento atual é diferente. Em todas as esferas, há essa instabilidade. Além do pedido de afastamento da presidente, o esporte por aqui está em uma grande crise.
No futebol, os casos de corrupção mundial que afetam grandes "chefões" do esporte, abala as estruturas da CBF e de outras entidades. Até mesmo a Lava Jato respinga no esporte (por conta das empreiteiras envolvidas, que foram as mesmas que construíram e fizeram parte do processo pré-Copa).
E no Governo esses problemas também são evidentes. Os últimos ministros dos esportes foram muito questionáveis. George Hilton foi um deles. A saída dele, incrivelmente, se dá, não pela sua postura quase inexistente nas decisões para melhorar o esporte no país, mas sim por briga política.
- Dilma chuta o Esporte a escanteio - Blog do Juca (em dezembro de 2014)
- Novo ministro do Esporte foi expulso do PFL flagrado com dinheiro da IURD - Blog do Juca (em dezembro de 2014)
- PRB recua e George Hilton deixa Ministério do Esporte; PCdoB fica com a pasta - UOL Notícias (março de 2016)
- Após reportagem do UOL, jovem de 18 anos deixa o Ministério do Esporte - UOL Esportes (em maio de 2015)
Terrorismo e Zika Vírus
E há outras preocupações que os organizadores têm durante essa preparação. Internamente, as denúncias de corrupção, as histórias envolvendo as construções olímpicas e as incertezas da população são alguns dos pontos questionados. O Governo garante que dará segurança em todos os aspectos aos atletas, jornalistas e turistas que aqui estiverem. Serão cerca de meio milhão de estrangeiros no país devido aos Jogos (antes, durante e depois do evento).
Um outro problema é o Zika, que atinge vários países ao redor do mundo e chegou com força no país ao lado de baixo do Equador. Por aqui, a ânsia da população geral por respostas rápidas das autoridades deixam brasileiros e estrangeiros apreensivos por conta desse tormento. Medidas desastradas e a falta de controle para já combater um velho conhecido — que era a Dengue — mostraram toda a ineficiência dos responsáveis pela saúde pública no Brasil.
- Zyka vírus e Copa das Confederações - Blog do Juca
- A zika e a Rio-16 - Blog do Juca
Até hoje, três grandes boicotes marcaram os Jogos Olímpicos. Sempre por questões políticas. Cogitou-se isso para esta edição por conta destes problemas. Provavelmente isso não acontecerá. Mas a possibilidade de isso acontecer já afeta toda a credibilidade do país.
E o momento atual com estes questionamentos e conflitos políticos entre países faz com quê relembremos o passado.
Na história, o primeiro grande boicote foi aos Jogos de 1976, em Montreal, no Canadá. A Tanzânia encabeçou a não ida de países a disputa e conseguiu apoio de 21 outros países africanos. O motivo foi o apartheid na África do Sul (um time de rúgbi da Nova Zelândia disputou uma partida em território sul-africano, e gerou esse boicote).
O segundo, em um dos pontos altos da Guerra Fria, o presidente americano, Jimmy Carter, liderou o movimento que não enviou atletas a Olimpíada de 1980, em Moscou. O boicote se deu por conta da invasão soviética ao Afeganistão, em dezembro de 1979.
- ISIS ataca a Bélgica: entenda o surgimento do Estado Islâmico antes de entrar no debate - PapodeHomem
Em resposta, o último grande boicote aos Jogos aconteceu em 1984 (Olimpíada seguinte), em Los Angeles, onde o governo soviético não permitiu que outros treze países participassem da disputa.
CURIOSIDADE: A Olimpíada de 1996 (a do Centenário), disputada em Atlanta, foi a primeira a contar com todos os países filiados ao COI. Nenhum dos países afiliados deixou de enviar ao menos um representante para a Olimpíada. Atletas de 197 nacionalidades estiveram presentes. De lá pra cá, o número só cresce. Em 2016, serão 206 países, acompanhados por bilhões de pessoas em todo o mundo.
Ou seja, neste intervalo de três Olimpíadas, os motivos foram políticos. O principal deles tem influências até hoje. Em meio a ataques terroristas que o mundo enfrenta, a preocupação com os Jogos do Rio 2016 são grandes. Tudo bem que o Brasil não é alvo principal, mas em meio aos mais truculentos e desumanos ataques que há, não dá para deixar de lado essa preocupação.
Ataques à Bélgica, França e em outros lugares mostram que ninguém está a salvo. E as Olimpíadas contam com tristes fatos que mancharam a história do esporte. Em 1972, em Munique, a Alemanha queria mostrar os Jogos da Paz. Mas esta ficou marcada como a mais sangrenta das competições. O massacre de Munique foi provocado pelo grupo terrorista Setembro Negro, um grupo palestino que invadiu a Vila Olímpica e causou o terror que, pela primeira vez, foi transmitida ao vivo via satélite pelos sinais de TV. Atletas e comissão técnica de Israel foram mantidos reféns e alguns foram mortos. A desastrosa negociação dos policiais alemães é ainda muito criticada.
- Forças de segurança recebem treinamento antiterrorismo para Jogos Rio 2016 - Ministério da Justiça
E isso contrasta com a visão dos Jogos Olímpicos. Na história, ainda nas disputas das cidades-estado em homenagem aos deuses, no caso Zeus, pai de Olimpo, havia uma "trégua sagrada", onde nenhuma arma poderia entrar na cidade, e o foco era as disputas esportivas e os eventos religiosos e filosóficos que marcavam o período. O espírito olímpico, porém, ficou de lado por longos anos, com a tomada de poder pelo Império Romano.
Política e Poluição
2016 será a 28ª disputa olímpica da era moderna. O cronograma de obras está, até certo ponto, dentro do prazo. O problema mesmo é fora dele. Além dos problemas políticos à nível nacional, dentro do Rio também o clima não está muito bem. O nome do prefeito está envolvido na Lava Jato. As instalações olímpicas e a forma como tudo isso acontece está sendo bastante questionado.
- Água da Baía de Guanabara vira polêmica em rede social nos EUA - G1 (janeiro/2016)
- A sete meses do Rio 2016, Velódromo está entre as obras que preocupam - Globoesporte.com (janeiro/2016)
- Infográfico: Instalações olímpicas para 2016 - Globoesporte.com
Lembrando que não é só no Brasil que existem (ou existiram) desconfiança para sediar grandes eventos. Na Copa do Mundo, a África do Sul, há seis anos, sofreu muitas críticas e hoje existem muitas suspeitas quanto a escolha deste como sede do Mundial de Futebol. Assim como na Rússia 2018, Catar 2022 e, recentemente, o próprio Brasil 2014.
Antes da organização da Copa de 2006, na Alemanha, a Europa vivia um momento extremamente tenso, como no atentado de 2004 na Espanha, o maior da sua história.
Em 2008, um grande terremoto abalou a China, que, a poucos meses sediaria a Olimpíada em Pequim, que viria a ser a mais cara da história.
Ou seja, instabilidade, descontentamento e incertezas não é exclusividade do Brasil. Pena… Seria uma oportunidade para fazermos direito.
*****
0 comentários:
Postar um comentário